terça-feira, novembro 14, 2006

Para ti mana!


Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.

Porque os outros se calam mas tu não.
Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.
Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.
Sophia de Mello Breyner
P.S.- Por isto tudo e muito mais...eu gosto de ti mana!

domingo, novembro 12, 2006

Tal como o presente...

O vento...
As folhas...
A folha desagrega-se do seu lugar de pertença
Foge, voa, cai enebriada pelo seu destino, pela gravidade,
Contrapõem-se-lhe a dureza do chão
Ou o aconchego de um lugar de pertença
Lugar onde fora da sua natureza
e se encontra com factos desta...

É escuro,
é quente demais!
a efemeridade do efémero coabitam
outras folhas sobrepõem-se
o peso, a presença magoa,
fere o contacto com o chão.
Não me consigo mexer!
Vento muda,
Vento muda-me,
Vento ajuda-me a mudar, [O vento não muda sozinho são precisas várias conjecturas para o mudar]

Os olhos movem-se,
Movem o resto,
Exalta-se um movimento antagónico
E aí
E assim vive-se...

AMOR-TE

Sim, tu que pensas que o mundo gira sobre os teus ombros e que desejas enfrentar a imortalidade da vida, descansa as tuas pernas nesta cadeira que aqui está junto de mim. Senta-te. Sim eu estou a morrer, e pensas que já não há mais nada a fazer? Há muita coisa... ouve-me pelo menos nesta ultima vez, esta não é a minha última vontade, porque a vontade sempre me acompanhou a minha maneira de querer morrer depende só da maneira como eu vivi a minha vida, não te vou pedir nada, se estiveste comigo nestes últimos tempos e me conheces sabes bem como eu sou, como os meus são e como tudo se deve passar para manter a tal “dignidade”. Por isso homem de roupa branca que tantas vidas vives, como amigo que foste nestes tempos, sabes bem o que fazer e eu descanso... Adeus.
P.S.- para perceberem o sentido deste post vejam www.amor-te.com

domingo, outubro 29, 2006

O que alguém disse

"Refugia-te na Arte" diz-me Alguém
"Eleva-te num vôo espiritual,
Esquece o teu amor, ri do teu mal,
Olhando-te a ti própria com desdém.

Só é grande e perfeito o que nos vem
Do que em nós é Divino e imortal!
Cega de luz e tonta de ideal
Busca em ti a Verdade e em mais ninguém!"

No poente doirado como a chama
Estas palavras morrem... E n'Aquele
Que é triste, como eu, fico a pensar...

O poente tem alma: sente e ama!
E, porque o sol é cor dos olhos d'Ele,
Eu fico olhando o sol, a soluçar...
Florbela Espanca

terça-feira, outubro 24, 2006

O continuar de uma longa caminhada...

A vida nem sempre acontece... ou acontece, mas não da maneira que nós mais queremos. Se calhar da maneira que mais precisamos? será?!
De Janeiro até agora a vida aconteceu algures num lugar da minha existência. Aconteceu da melhor maneira?! A esta pergunta muitas vezes respondi que não, mas agora... sim aconteceu da maneira que eu precisava para acordar e para empurrar do meu leito o desânimo e a passividade.
Ontem fui a uma exposição fotográfica onde estavam fotografias de pessoas vivas e das mesmas depois de mortas, junto estava uma descrição dos sentimentos dos últimos dias de vida.
Aquelas pessoas que ali estavam naquela sala estão mortas! Aquele espaço tornou-se um misto de vida e de morte, onde alguns aparentavam uma expressão de sofrimento enorme e outras uma calma tão serena, como se estivessem a dormir...foi um misto místico de sensações que me agradou, fez-me sentir viva!
Dia a dia,
o tempo passa,
os sorrisos saém sem pedirem licença.
pergunto-me porquê?
Sinto que agora sim,
Agora, estou a tornar-me eu!
Consigo sonhar,
Consigo falar,
Consigo escrever,
Consigo aproveitar o tempo comigo mesma!
Consigo encontrar-me no vazio de entretantos e de peças incompativeis.
Ah, que andei eu a fazer-me?!
Um dia talvez conseguirei explicar-me,
explicar o porquê da minha entrega ao vazio...